"Ao analisar uma imagem é como navegar na alma do artista. É querer conhecer os mistérios que envolveram sua vida e sua época seja ela qual for." - Thais Argamim.
Trabalho realizado para obtenção parcial de créditos da disciplina História da Arte.
Universidade Federal de São João Del Rei - Artes aplicadas com ênfase em cerâmica.
Obra escolhida : "As duas irmãs" de Pierre Auguste-Renoir
[fig.1] Renoir, As duas Irmãs
[1]
FICHA CATALOGRÁFICA:
AUTOR:
Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)
TÍTULO: Les
Deux Soeur s (As Duas Irmãs)
DATA:
1889
TÉCNICA
E DIMENSÕES: Óleo sobre tela, 379x500 cm
LOCALIZAÇÃO:
Atualmente esta é uma obra de posse particular.
[2] INFORMAÇÕES SOBRE O ARTISTA:
Pirre-
Auguste Renoir (1841–1919) nasceu em Limonges,
Haute-Vienne, na França. Filho de uma família de classe trabalhadora. Quando
menino, ele trabalhou em uma fábrica de porcelana, onde seus talentos
artísticos o levaram a ser escolhido para pintar desenhos em porcelana, antes
de se matricular na escola de arte. Durante os primeiros anos, muitas vezes ele
visitou o Louvre para estudar os pintores franceses.
Em 1862, Renoir decidiu estudar pintura a
sério e entrou no estúdio do pintor Charles Gleyre, onde conheceu outros
artistas como Claude Monet (1840-1926), Alfred Sisley (1839-1899), e Frédéric
Jean Bazille (1.841-1.870). Durante os próximos seis anos, a arte de Renoir
mostrou a influência de Gustave Courbet (1819-1877) e Édouard Manet (1832-1883)
pintores da década de 1850 (não obstante das influências de outros pintores,
Renoir criou um estilo pessoal e inovador).
O
pintor era dono de uma profunda elegância e sensualismo em seu traço artístico
(principalmente ao representar figuras femininas) sem contar com a intensa
delicadeza ao representar suas personagens que sempre eram dotadas de cores
vivas e flamejantes. Que por sua vez era uma das principais características de
suas obras impressionistas.
As pinturas de Renoir são notáveis por sua luz vibrante e cor saturada,
na maioria das vezes com foco em pessoas em composições intimistas e sinceras.
O nu feminino foi um de seus temas basais. Em estilo impressionista, o pintor
sugeriu que os detalhes de uma cena fossem por meio de toques livremente
escovados de cores, de modo que suas figuras pudessem ligeiramente fundir com
os arredores de seu cenário.
De caráter inovador e sedicioso, o pintor, ajudou a lançar um movimento
artístico impressionista na década de 1870. Depois de anos lutando como pintor,
Renoir experimentou sua aclamação inicial. Quando seis dos seus quadros foram
divulgados na primeira exposição impressionista em 1874.
[3] ANÁLISE DA OBRA
[procedência]
A tela de êxito magnânimo no impressionismo,
já pertenceu a Durand-Ruel e ao Barão Thyssen, cuja coleção fundou um museu em Madrid, pertencia à coleção
de Chartes R. Lachman. Foi
vendida em leilão, na Sotheby´s, em Londres, dia 5 de fevereiro de 2007, e a sua estimativa máxima era de
8.000.000 dólares. Todavia, não
ultrapassou os 6.852.000 dólares tendo sido o segundo quadro mais caro do
leilão, perdendo somente para O
homem do lenço vermelho, de Chaim
Soutine, que por pouco não alcançou os 9.000.000 de dólares. Hoje esta é
uma pintura de caráter particular.
[descrição]
A pintura representa duas
siluetas femininas e jovens certamente irmãs, de acordo com o próprio título da
obra. As modelos posam com toda a elegância da
burguesia francesa, intensificada pela delicadeza natural da pintura de Renoir,
que transmitem igualmente uma sensualidade intocável ao espectador. Até porque, em quadros impressionistas, e na
maioria das obras do pintor, é habitual a presença da cor. E Les deux sœurs (ou As
Duas Irmãs, em português) agarra
o observador devido às suas cores desgastantes e provocadoras, que formam um
contraste amenizado aos olhos de quem observa o quadro.
O
trabalho transmite logo ao primeiro olhar, uma leveza, uma delicadeza soberba,
com o harmônico contraste de tonalidades vivas e luminosas. A opulenta paleta de cores de Les
deux sœurs evoca o calor e a
intimidade da cena. O
cabelo ruivo das duas raparigas reflete com tons dourados, ocre
e âmbar com a luz do interior do
quarto, e as suas faces rosadas, denunciando a sua castidade, contrasta com os múltiplos sombreados que percorrem as
páginas do livro aberto, que lêem com entusiasmo.
Este
trabalho, datado de 1889, foi o primeiro de uma série de retratos duplos de
adolescentes. Renoir desejava transmitir o momento em que as crianças se
transformam em mulheres alegres e vistosas, sem esquecer a sobriedade do ser
feminino.
[características técnicas]
As principais
características da pintura impressionista, e particularmente desta pintura, são
as figuras sem contornos nítidos, as sombras luminosas, as pinceladas fortes e
o registro das tonalidades da luz no momento em que a obra estava sendo
pintada. Os objetos deviam ser retratados como se estivessem totalmente
iluminados pelo sol.
As linhas não possuem contorno nítido, já que
quase é possível uma fundição entre elas e o cenário. O que não debilita a
forte presença das figuras femininas.
A luz é natural e resplandecente, causando brilho e sombras luminosas.
Ainda que as jovens se encontrem em ambiente fechado, provavelmente na sala de
uma casa, pode estar supostamente provida de iluminação do exterior de uma
janela ou com a iluminação de uma lamparina. O que confere o brilho presente no
rosto, no cabelo e nas roupas das jovens.
O colorido é
grave, também refletindo sombra, luz e brilho, presente diametralmente na
tonalidade da pintura, sem afetar a refinada maciez da pele e dos pequenos
detalhes presentes em ambas as modelos. A cor mais marcante da tela é o vermelho luxuriante dos vestidos, em contrastante com o azul
turquesa do
papel de parede.
[interpretação do significado; tema]
A questão central em relação ao significado desta obra é que, embora não haja um coerente registro
da identidade das modelos e nem índices de encomenda da pintura, é possível ao menos coligar a
classe social das mesmas. Através dos pormenores de seus delicados e refinados
penteados [fig.2] e de suas jóias e roupas [fig.2], fica evidentemente claro de que
pertenciam a uma sustentável
burguesia.
[fig.1]
Cabeça das irmãs em Les
deux sœrs. [fig.2] Pormenor do brinco da jovem
Crê-se que as modelos que posaram para esta pintura, sejam as mesmas que
pousaram para A lição de piano
[fig.3], e para A
Leitura [fig.4]. O interessante é que As Duas irmãs antecederam ambas as obras citadas. E ainda que não
haja registro da identidade das modelos, estima-se que Renoir fez um ótimo
trabalho agradando assim, as personalidades burguesas que pousaram para mais
duas pinturas sucessivas. Este estilo é distinto, reinventado por Renoir,
obteve sucesso e, hoje, algumas das obras deste período constam entre as
coleções de museus como o Metropolitan
Museum of Art, o Museu da Orangerie e o Orsay.
[fig.3] A lição de
piano, Pierre-Auguste Renoir,
óleo
sobre tela, c.1889
[fig.4]
La Lecture, Pierre-Auguste Renoir, pastel sobre papel, c. 1889.
É notável
que, tanto na obra antecessora As duas
irmãs, quanto nas sucessoras A lição
de piano e A leitura, as modelos
posam com o mesmo figurino transparecendo elegância e delicadeza particular em
suas poses. A maneira polida com que tocam piano ou a sutileza em que seguram
seus livros de leitura são costumes que pertenciam a uma classe sublime de uma
burguesia rica e suntuosa.
Assim como Renoir, os
autores impressionistas não mais se preocupavam com os preceitos do Realismo ou da academia. A busca pelos elementos fundamentais de cada arte levou os pintores
impressionistas a pesquisar a produção pictórica não mais interessada em
temáticas nobres ou no retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra
em si mesma. A luz e
o movimento utilizando
pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da pintura, sendo que
geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor
pudesse capturar melhor as variações de cores da natureza.
Edgar Degas, por exemplo, (que foi
considerado um dos fundadores do impressionismo) fazia uso de técnicas que
podem ser comparadas com as obras de Renoir. Principalmente se tratando de
figuras duplas e femininas. Mesmo que Degas se identificasse com o tema dança,
e apresentasse índices bastante ricos em movimento em suas pinturas.
O pastel, Two Dancers, (ou
Duas Dançarinas, em português) de Edgar Degas, de concentração absoluta
garantida na cor e na forma, mostra duas dançarinas nos preparativos finais
para sua apresentação [fig.5]. Uma fixando o brinco e outra ajustando o cabelo.
A analogia entre esta obra e As duas
Irmãs de Renoir, está na forte presença das cores e na
representação de duas silhuetas femininas. Entre ambas as obras, é possível
encontrar semelhança até mesmo nos penteados modelados e na cor do cabelo das
mulheres, e na forma suave em que as figuras femininas são representadas.
Ao contrário de As duas
irmãs que transmite aos olhos do espectador, leveza e tranquilidade de uma
classe média francesa. Duas Dançarinas, por
outro lado transmite agitação e certa
densidade da classe trabalhadora, logo duas características que diferenciam os
pintores do impressionismo, Renoir que pintava reflexos da burguesia francesa e
Degas que além da forte presença do movimento, representava a agitação do
cotidiano de pessoas que utilizavam a dança para ganhar a vida.
[fig.5] Duas dançarinas, Edgar Degas, pastel sobre papel, c. 1890
Já nas semelhanças
e diferenças técnicas, entre uma pintura e outra, provém da pincelada (ou
traçado, no caso do pastel) particular de cada pintor. As duas Irmãs possui um detalhamento muito profundo das figuras
femininas, detalhes típicos das pinturas de Renoir, Degas por sua vez
enfatizava mais o movimento e outros elementos que causavam oscilação por parte
de suas personagens em suas pinturas, sem se preocupar com detalhes mais
profundos principalmente do rosto das personagens.
[4] CONCLUSÃO
Embora não haja índices da identidade das modelos da pintura, é grande importância ressaltar a qualidade
impactante da obra impressionista, pois Renoir, um dos jovens pintores do
movimento que romperam com as com as regras da pintura vigente, não se
preocupavam mais com os preceitos do Realismo ou da Academia,
fazendo uso então de um novo estilo pulcro e impactante. A obra As duas irmãs se encaixa impecavelmente
na representação impressionista, por apresentarem a doçura do ser
feminino em pinceladas soltas na variação de cores e luz. Um
dos motivos principais da escolha desta para a análise foi devido ao fato de
ser uma das obras menos conhecidas de Renoir, e também por não se localizar em
nenhum museu. É lastimável a não descoberta da identidade de ambas, porém vale destacar a descoberta das pinturas sucessoras e da classe social das
modelos de As duas irmãs.
[5] BIBLIOGRAFIA: